Quando nasci em 1966, pelo que hoje tenho pesquisado, não teve fato mundial que pudesse mudar minha historia de vida, talvez até tenha acontecido, mas nada que me emocionasse a ponto de trazer aqui para meu memorial. Prorrogação do mandato do presidente, mesmo que na época eu ainda eu um recém nascido, me leva a pensar nos presidentes que governaram o Brasil por mais de quatro anos e alguns com mão de ferro como na época da ditadura e, falando em ditadura, lembro-me de imediato do presidente Getúlio Vargas e que instituiu o Decreto de nº 57.900 decretando um valor de Cr$ 84.000 para o salário mínimo, salário que foi criado em 01/04 e eu nascia em 11/06 e que nós dois até hoje andamos de mãos dadas.
Na década de 1975, estudar com uma professora formada era o orgulho dos pais, isso para o povoado de Itpicuru era muito mais que um avanço para a educação naquela época. Lembro muito bem que para ir estudar a primeira série, antes eu tive que estudar o ABC, depois a cartilha, a cartilha de Alice, somente aos nove anos é que fui estudar a 1ª série, o que hoje, considerando o fator idade-série, estaria cursando a terceira série ou quarto ano como propõe o Ensino Fundamental para Nove anos.
Escola Rural, antigo Pólo Nordeste, existe até hoje, apenas mudou o nome e por coincidência trinta e cinco anos depois eu trabalho na escola que estudei fazendo de tudo um pouco. Secretária, gestora, auxiliar de disciplina etc. tento fazer o melhor que posso, pois tenho na minha história de estudante um fato que muito marcou a minha vida: a professora Maria Perpétuo do Socorro que lecionava a quarta série, abriu mão do trabalho deixando-nos sem professora e não deu nenhuma explicação sobre o motivo do abandono e também não deixou ninguém que pudesse continuar o seu trabalho, e assim perdemos de ano e no ano seguinte tive que vir para Irecê e repetir a quarta série. Esse fator me faz criar coragem e seguir em frente com humildade buscando desenvolver um trabalho que possa ajudar as crianças do povoado que nasci, cresci e hoje trabalho.
Aqui em Irecê, fui morar com minha irmã, que se transformou no meu braço direito me ajudando em tudo que precisasse. A minha primeira escola na sede foi a Escola Estadual Centro Integrado Luiz Viana Filho, mas essa é uma época que a minha memória resolveu esconder, assim ela não me deixou revelar nem quem foi a minha professora. Essa característica proveniente do fator idade me faz lembrar que já se passaram 29 anos, na época tinha apenas 13 anos e hoje aos 42 anos, minha mente já começa a falhar e necessita da ajuda da escrita e assim, faz com que eu comece a descobrir a importância do memorial para minha vida.
Passei três anos afastada dos estudos e somente retornei em 1983, me afastei por motivos de mudança, meus mudaram para outra cidade, a cidade de Ibipeba, assim meus estudos foram prejudicados, mas com muita coragem quando retornei tentei recuperar todo tempo que tinha perdido, a comprovação deste fato, foi que em 1984 eu me transferia para Irecê e já cursava a 6ª série. Este também foi o período das diretas já, iríamos votar diretamente para escolhermos o nosso presidente.
Quando relaciono períodos de fortes contribuições políticas para o Brasil, me vejo como uma personagem que tinha uma vida bem parecida com os fatos que estavam acontecendo. Em 1985 foi o fim do regime militar e também o fim do meu casamento. O Brasil estava vivendo uma nova fase e eu também. Assim como o país estava passando por uma nova situação política, minha vida também estava acompanhado com um outro movimento: iria ser mãe pela primeira vez, e assim em 1986 nascia minha primeira filha: A Naiara!
Minha história de vida foi recheada de muitas idas e vindas, retorno mais uma vez aos estudos, volto novamente para cidade de Ibipeba, mas mesmo assim consegui concluí o 2º grau fazendo o curso de Magistério. Como nem todos os começos são flores, eu não encontrei vaga para lecionar, então surgiu um concurso para Agentes Comunitários, fiz, passei e fui trabalhar durante um ano na área de saúde. No ano seguinte viajei para São Paulo, mais uma vez não consegui trabalho na minha área e fui trabalhar em uma casa de diversão eletrônica, que também não durou muito, pois minha saúde muito abalada não me permitiu ficar na terra da garoa e, então, fui aconselhada a voltar à Irecê.
Em 1993 nasce meu segundo filho, Edmilson, hoje, com 15 anos e é quem me faz companhia nessa fase de vida atarefada com faculdade e trabalho. Três anos depois me vejo em meio a grande mudança política no Brasil: o fim de um mandato o presidente, presidente que foi escolhido pelo voto direto! Novamente minha vida faz historia com o Brasil! Nesse mesmo ano é promulgada a lei maior da educação: LDBN – Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 que veio ajudar a mudar toda minha história de vida profissional como professora, pois a lei exigia nível superior para professores até o ano de 2010 e com isso muitas políticas para formação em nível superior para professores foi implanta em quase todo Brasil e aqui na cidade de Irecê recebemos o nosso Programa de Formação de Professores em Nível Superior, uma parceria entre Universidade Federal da Bahia e Prefeitura Municipal de Irecê.
A história da educação no município de Irecê ficou gravada na nossa história, recebíamos formação sempre, começamos com a AVANTE fazendo a nossa capacitação nas séries iniciais e depois os Parâmetros Curriculares Nacionais. Assim como nossa vida faz parte da história da nossa cidade, fatos que aconteceram no mundo também contribuíram para transformar essa história em um filme feito no nosso dia-a-dia, pois a cada lugar que vamos tem uma câmera nos filmando, somos agora atores de um cinema sem dono, um cinema que veio como resultado dos ataques às torres gêmeas no dia 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Nesse instante que escrevo esta página do meu memorial, apenas destaco a importância da formação oportunizada pelo governo de Irecê, quero dizer com isso, que agora já não sou uma simples professora, sou uma universitária do Curso de Pedagogia de Irecê.
REFLEXÃO DO PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL
Há 14 anos
